quinta-feira, 29 de março de 2012

PAIS E FILHOS: GERIR O TEMPO E OS AFECTOS

Tornou-se quase “lugar comum” afirmarmos que é essencial uma articulação entre a escola, a família e a comunidade de modo a minimizar ou erradicar o insucesso escolar e estimular o gosto pelo saber. Mas ainda assim continua a ser imperioso percebermos que é inevitável e urgente a participação de todos na educação, uma vez que a participação dos pais na escola e no processo educativo faz parte de um processo dinâmico e evolutivo, começa na família, passa pela comunidade e desenvolve-se e interioriza-se na escola.
Os pais devem estar sensibilizados para vir à escola, falar com os professores, conhecer o projeto educativo que está aqui a ser desenvolvido, para desse modo saber da necessidade de nele participar, ainda que dentro da disponibilidade de cada um para se dedicar e se integrar nalgumas actividades. Simultaneamente considera-se fundamental o acompanhamento dos seus filhos nos trabalhos de casa, nomeadamente ensinando-lhes a gerirem o seu tempo.
Por muitas lacunas (falta de tempo, ou até alguma falta de conhecimentos académicos) que os pais tenham para ajudar os filhos a estudar, conseguem sempre organizar no seu quotidiano, o momento para ir às compras, a hora de se preparar o jantar, a ocasião de ir à missa ao domingo, a oportunidade para os passeios em família, aliás, também o tempo para contar histórias ao deitar. Assim, não só podem ajudar os filhos a gerirem melhor o seu próprio tempo, como também a dispor dele para os trabalhos da escola em casa, ou mesmo a dedicar aquele momento ao estudo, criando-se desta forma alguns hábitos de trabalho nas nossas crianças e jovens. Por isso, é bom que os pais conheçam o horário escolar dos filhos, a que horas entram, que disciplinas têm, a que horas saem. Nesse mesmo horário, que pode estar fixo na porta do frigorífico, por exemplo, deve constar um espaço para os estudos e trabalhos de casa. Assim, ele sabe que aquele período de tempo é para trabalhar por forma a melhorar e adquirir mais conhecimentos, mais saberes.
Feitos os trabalhos, já pode ir brincar, estar com os amigos, jogar etc. Desta forma está a ensinar-lhe a gerir o tempo, mostrando-lhe que há um tempo, para estudar, para brincar, para conviver…
Para além deste espaço de tempo, também é muito importante criar um outro espaço para ouvir, falar, passear, fazer atividades com o seu filho. É também importante fazer-se pelo menos uma refeição em família, esquecer por momentos a televisão e arranjar-se tempo para conversar sobre o dia que passou e o próximo, planeando-se atividades para os fins-de-semana com a família. O ler ou contar histórias ao deitar das crianças desenvolve nas crianças uma linguagem particular, a linguagem do afeto. É a partir das cantigas de embalar à noite que a criança vai desenvolvendo o gosto pela leitura e as ferramentas iniciais da sua formação pessoal. E, mais tarde, será um adulto saudável, com o gosto por adquirir conhecimentos que o enriqueçam, pois é nas narrativas ouvidas que a criança vai desenvolvendo o seu mundo onírico, imaginativo, criativo.
As histórias não só nos ensinam como também nos convidam a olhar para dentro de nós próprios. Há técnicos que defendem a ideia de que as crianças que ouvem histórias na infância se tornam adultos mais seguros e profissionais bem-sucedidos. O gosto pela leitura começa bem antes do processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. O início deste caminho e a sedução para o mundo das letras e dos números, dá-se ainda no berço, através das histórias e cantigas de embalar e, claro, de todo o ambiente de afeto que se propicia nesses instantes. Existem os contos tradicionais e educacionais que são transmitidos oralmente de geração em geração, e que muito benéficos podem ser ouvidos pelas crianças.
A criança, o jovem, está em crescimento e é normal que tenha dúvidas que queira relatar acontecimentos que viu ou participou, assim, questioná-lo sobre isto ou aquilo, mostrar as dificuldades que tem, dizer brincadeiras e jogos que fez, falar dos amigos e colegas com quem anda, das zangas e alegrias que partilham irá favorecer a hábitos de partilha, de comunicação entre gerações, e aí nascerá o afecto e a confiança, alcançando uma vida serena e estável.
Rodrigo Alves, Psicólogo